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Entrevista a... Jacques Toulemonde, jovem colombiano realizador de cinema
Jacques Toulemonde é um jovem realizador colombiano de ascendência francesa. Estudou no Liceu Francês Louis Pasteur de Bogotá antes de partir para França em Agosto de 2001. Em Paris, frequentou cursos de Ciências Humanas e posteriormente de Literatura na Sorbone, associando-se em seguida a uma dezena de projetos da escola pública de cinema La fémis.
Em 2006, participou como assistente de direção na curta-metragem “Como todo el mundo” de Franco Lolli . Este filme recebeu mais de vinte e cinco prémios, entre os quais se destacam o Grande Prémio de Júri no Festival de Clermont-Ferrand , considerado como o evento mais importante no mundo da curta-metragem, e o prémio para Melhor Audiovisual na muestra de In Vitro Visual 2007.
Em Dezembro de 2007 terminou a edição da sua primeira longa-metragem como Realizador – Dérive. A estreia decorreu na La fémis em Paris e na Cinemateca Distrital de Bogotá em abril de 2008.
Em janeiro de 2010 dirigiu a curta-metragem Un juego de niños, filmada em Bogotá e posteriormente produzida em Paris. Esta coprodução entre a companhia colombiana Janus Films e a produtora francesa Noodles Production, obteve o incentivo à produção do Fondo para el Desarrollo Cinematográfico de Colombia o apoio às ‘curtas’ do Departement de la Seine-Saint-Denis , e foi comprada pelo canal público de televisão France 3 .
Atualmente, está a desenvolver com a Janus Films dois projetos de longa-metragem. Anna, coproduzida também pela Noodles Production, relata a viagem de uma jovem colombiana emocionalmente muito instável, que parte de Paris para a Colômbia junto com o seu melhor amigo alcoólico e o seu filho de sete anos, com o objetivo de provar que pode ser a mãe ideal. O segundo projeto, Cariño, descreve a espiral de violência em que se juntam dois rappers que procuram concretizar os seus sonhos na cidade de Bogotá.
És realizador de cinema e o teu último projeto, Anna, acaba de ser financiado pelo CNC , em Francia. O que te levou a dedicares-te ao cinema?
Desde a minha adolescência que quis ser realizador de cinema. Recordo bastante bem o momento exato em que isso aconteceu. Num mesmo fim-de-sema vi A Laranja Mecânica de Kubrick, Crash de Cronemberg, Un histoire d'O de Jaeckin e La Grande Bouffe de Ferreri. Tinha 13 anos. Estes filmes, também porque eram destinados a um público bem mais velho do que eu, marcaram-me bastante pois descobri no cinema não só o vetor de uma história, mas também uma ferramenta de reflexão através da emoção, da sensualidade e da violência. Um filme é um discurso que convence por meio da emoção e não da simples razão.
Convenci-me profundamente de que esse era o meu caminho. E por essa convicção lutei por mais de 10 anos.
O que é mais difícil para ti nesta carreira de realizador emergente de cinema?
O financiamento dos projetos. O cinema é uma indústria que não é rentável desde os anos sessenta. Pelo menos fora dos grandes centros da indústria como Hollywood ou Bollywood. Os cineastas produzem filmes que, na sua maioria, não recuperam o seu investimento, o qual pode ascender a vários milhões de euros. É simples: preciso de um milhão de euros para fazer um filme e o mais provável é que não recupere uma décima parte desse dinheiro. Como tal, temos de cair nas esmolas do Estado, pelo menos em grande parte do orçamento. Temos de submeter-nos a dezenas de concursos onde existe um prémio para dez, vinte ou trinta candidatos e onde tudo depende da subjetividade de um júri.
Enquanto editava a minha curta-metragem, costumava calcular as probabilidades do milagre que tinha sido conseguir fazê-la. Nós ganhámos o FDC de Colombia , de onde saíram 5 prémios sobre 200 projetos, ou seja, estamos a falar de uma probabilidade de 2,5%. Depois, o prémio d'aide au film court de la región de Seine-Saint-Denis onde três ou quatro filmes saíam vencedores sobre setenta, ou seja 4%. E completámos o financiamento com uma venda à televisão francesa onde, digamos, tínhamos uma probabilidade de 10% de conseguirmos ser comprados. Vários projetos valiosos ficaram pelo caminho. E isto porque, se o talento e perseverança são bastante importantes na realização de um filme, existe também uma proporção de sorte bastante alucinante.
Para além disso, as dinâmicas do financiamento requerem dezenas de entrevistas e de pitchs e apresentações ultra breves dos projetos onde conta mais o teu carisma e a tua capacidade de venda do que o teu talento ou o interesse do projeto. Por isso, como realizador, não só te pedem para seres capaz de dirigir um filme, o que é já por si bastante complicado, como também deves ser capaz de vendê-lo. Fui melhorando com o tempo, mas continua a ser muito complicado para mim.
O que é que é mais gratificante?
Poderes fazer o teu filme. É simplesmente isso. Lutas durante anos para defender o teu projeto, obtendo o dinheiro, e um dia chegas ao fim, fruto de uma conjugação de milagres, à pré-produção, às filmagens e à edição. A felicidade de por fim poderes trabalhar. Para mim, o êxito de um filme é secundário face à satisfação da sua criação. Quando começar a filmar Anna, o projeto vai cumprir sete anos.
Há algumas satisfações no caminho. Para mim a escrita é um processo bastante intenso e satisfatório, porque nessa fase ainda não colides com o mundo económico e físico, e sonhas com o teu filme genial, tal como uma criança. Depois tem início a sucessão de candidaturas, petições e dossiers. Em cada cinco, um diz-te que sim, e esse momento em que recebes um email ou um telefonema com uma resposta positiva é muito emocionante. Voltas a sonhar. Até teres de recomeçar...
Quais foram as dificuldades com que te deparaste para afirmar a tua posição como artista profissional? (Lutas administrativas, proteção dos teus direitos de autor e do copyright das tuas obras, como te movimentares no mundo do cinema, como difundires os teus trabalhos, curtas, longas-metragens, guiões, como dares-te a conhecer...)
Começar foi o mais complicado. Quando tens 18 ou 20 anos, ninguém te conhece, dizes que queres fazer cinema, não te aceitam numa escola de prestígio ou não tens dinheiro para ir estudar para a NYU [New York University], não sabes muito bem por onde começar e a tua família e amigos vão-te perguntando porque é que não te tornas professor, isto tudo enquanto trabalhas numa padaria. Durante cinco anos, trabalhei à borla quase todo o tempo, em curtas-metragens e num ou outro filme, aprendendo com a prática, enquanto fazia trabalhitos da treta para pagar a renda. Foi assim que me dei a conhecer.
Levei cinco anos até começar a viver do cinema. E como assistente de realização, não como realizador. Depois surgem todos os problemas relativos a como fazeres os teus filmes, como conseguires o dinheiro. É sempre o mesmo problema: quando estou em filmagens não tenho tempo para escrever ou avançar os meus projetos; quando estou a escrever não estou a ganhar dinheiro. E não é fácil encontrar o equilíbrio. Por sorte, sou bastante reconhecido como assistente de realização e surgem sempre propostas quando preciso de trabalhar.
As lutas administrativas são eternas, mas muito pouco relevantes face ao problema estrutural.
Onde obtiveste a informação que te ajudou a dar o passo para uma carreira profissional como realizador de cinema?
A informação teórica não é muito útil, já que o caminho é diferente para cada pessoa. O meu percurso foi bastante atípico, suponho que é apenas um pouco mais fácil para aqueles que entraram numa escola de cinema. A mim, o que me serviu foi ver e conhecer pessoas que trabalhavam no meio, não tanto por aquilo que me diziam, mas sobretudo por aquilo que as via fazerem.
No início, o que me ajudou foi La Maison du Film Court en París ,em Paris, sobretudo para conseguir trabalho pro bono, assim como outras mailing lists. E também a Proimágenes na Colômbia, para compreender um pouco melhor o que fazer para conseguir montar um filme. Partindo daí, fui a vários workshops onde fui aprendendo, o TyPa na Argentina , o Talent Campus em Berlim... Mas, na realidade, vamos aprendendo através das pessoas que vamos conhecendo.
Onde obtiveste informação sobre contratos, seguros e outras necessidades "administrativas" para trabalhares como artista profissional?
Com advogados, com contabilistas e com amigos produtores. Na verdade, este tema é muito periférico. O importante é trabalhar, depois ver como fazer para que te façam menos retenções sobre o salário. Mas é um detalhe.
Que conselhos práticos e teóricos darias a um artista que se queira lançar na realização de filmes?
Primeiro, que não se creiam artistas. Não vão estar numa torre de vidro, mas sim no chão, comendo merda. Segundo, que se encham de paciência. Se acima disse que muito depende da sorte, a única forma de contrariar isso é à custa de perseverança. Há que ser-se louco e seguir com os seus projetos face a um mundo indiferente ou até mesmo hostil. Por cada beijo recebemos dez estaladas.
Terceiro, há que trabalhar muito. Não apenas nos seus projetos, escrevendo e reescrevendo, analisando e editando, quando têm a sorte de chegar às suas filmagens, mas também noutras filmagens. Uma filmagem tem uma mecânica muito complexa e subtil. Quando fazemos um filme, somos responsáveis pela qualidade artística de uma obra que custa muito dinheiro e temos à nossa responsabilidade entre 20 e 100 técnicos e atores de perfis muito diferentes. Como tratá-los e conseguir que deem o melhor de si mesmos, só se aprende na prática nas filmagens. Eu não estudei cinema, mas fiz uma dezena de longas-metragens. Foi na minha experiência como assistente de realização que aprendi e que reuni muito mais ferramentas do que muitos realizadores novatos com quem trabalhei.
Tendo em conta que um realizador roda em média a cada cinco anos, a ginástica do set vai-se oxidando e sendo esquecida. Grandes realizadores fizeram filmes que saíram mal porque perderam o controlo das filmagens. Por isso, o melhor é não parar de filmar, seja como técnico noutras filmagens ou realizando curtas, videoclips ou o que quer que seja. Com sorte, não apenas publicidade, porque a componente artística é mínima e as dinâmicas são bastante diferentes.
Por último, há que conseguir aliados. Principalmente, um produtor. Um raciocínio muito recorrente entre inexperientes é o de que o produtor é um vendido que vai tirar a obra ao autor. A realidade é bastante diferente. O produtor é a única pessoa que vai acompanhar o realizador durante todo o processo de elaboração do filme. É um louco que vai apostar em alguém quando todas as probabilidades estão contra si. Um produtor deve ser o melhor amigo do realizador. Depois, é bom conseguir pessoas em quem se confie, para argumentista, assistente de realização, técnico de fotografia, técnico de som, editor. Há que trabalhar com quem se quer, ou pelo menos com pessoas em quem se confie, para além da sua reputação e experiência.
Quais são os próximos passos que vais dar como realizador de cinema e artista?
Ainda preciso de reunir muito dinheiro para filmar Anna, mas creio que estaremos prontos para filmar em meados de 2013, pelo que essa é a próxima meta. Entretanto, estou a reescrever um projeto que ficou pendurado e a começar a conceber um projeto para uma série. Esse é outro conselho, há que ter sempre um guião pronto, pois quando terminamos ou lançamos um filme há uma janela temporal em que os projetores estão sobre nós, e há que aproveitar para lançar o projeto seguinte.
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